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Trauma e EMDR

December 20, 2016

O que é um trauma e como saber identificá-lo?

Há vários sinais indicadores de trauma emocional. A passagem por experiências trágicas, tais como a perda real de pessoas queridas ou a ameaça de perda ou o risco de morte, NÃO significam necessariamente que a pessoa venha a desenvolver um trauma. Um bom indício da existência do trauma é a impressão de que a experiência passada insiste em permanecer no presente. Basta a pessoa lembrar-se do evento perturbador, mesmo que sem querer, para que uma emoção marcante, pensamentos negativos e/ou imagens nítidas se intensifiquem.

O que se passa a nível cerebral?

Vários estudos realizados com o auxílio de tomografias mostram que a experiência traumática é tão forte que altera o funcionamento cerebral. Observam-se diferenças significativas em certas áreas cerebrais relacionadas com a emoção, dentro dessas regiões, são destacadas com especial hiperactividade neuronal o córtex visual, o sistema límbico, o giro-cingulano e/ou os gânglios basais. Simultaneamente observa-se inibição acentuada de actividade de áreas mais cognitivas (córtex pré-frontal e área de Broca). Como resultado o individuo sente o trauma, mas não consegue compreendê-lo e reprocessá-lo adequadamente. O passado persiste no presente. O paciente relata o trauma como se tivesse ocorrido há pouco tempo.

O que acontece com a memória em situação de trauma?

A memória traumática difere da memória comum. Ao ser questionado sobre a ementa do almoço de quinta-feira da semana passada, um indivíduo provavelmente responderia: “Não faço ideia!”. Neste caso a memória dispersou-se no passado. A memória do trauma, contudo, guarda detalhes visuais, às vezes auditivos, às vezes físicos, às vezes emocionais, como se tivesse ocorrido há pouco tempo. O indivíduo pode lembrar-se dos sons, dos cheiros e dos sabores. A memória fica, portanto, registada e congelada no cérebro (principalmente no hemisfério direito), grande responsável por gerir as nossas emoções. Por outro lado, as ferramentas responsáveis pela nossa objectividade e racionalidade que nos permitem dar um novo significado à experiência e deixá-la finalmente no passado encontram-se no hemisfério esquerdo.

 

Teoria do EMDR

Todos os seres humanos são compreendidos como tendo um sistema de processamento psicofisiológico de informação que processa os elementos múltiplos das nossas experiências e armazena as memórias num formulário acessível e útil. As memórias encontram-se relacionadas e ligadas nas redes que contêm pensamentos, imagens, emoções e sensações. A aprendizagem ocorre quando as novas associações são forjadas com o material já armazenado na memória. Quando um evento traumático ou muito negativo acontece, o processamento de informação pode ficar incompleto, talvez porque os sentimentos ou a forte dissociação interferem com o processar de informação. Nestas situações a memória é armazenada de forma disfuncional, sem conexões associativas apropriadas e com muitos elementos ainda por processar. Quando o indivíduo pensa sobre o trauma, ou quando a sua memória é provocada por situações similares, o sujeito pode sentir-se revivendo o evento traumático, experimentando as mesmas emoções fortes e sensações físicas.

Não são apenas eventos traumáticos principais, ou “Traumas grandes” que podem causar o distúrbio psicológico. Por vezes um evento relativamente pequeno (“Traumas pequenos”) ocorrido na infância, que não foi adequadamente processado, pode ser a causa dos problemas de personalidade e transformar-se na base de reacções disfuncionais actuais.

Método de tratamento

Através da terapia EMDR é possível ajudar e aliviar com sucesso queixas clínicas, processando os componentes das memórias perturbadoras. O processamento da informação ocorre quando a “memória alvo” é ligada a uma outra informação mais adaptável. Surge então uma aprendizagem, e a experiência é armazenada com as emoções apropriadas, capazes de guiar o indivíduo de forma adaptada no futuro, ajudando-o a encarar e a viver os traumas de uma nova forma. A memória ainda é recordada mas o efeito perturbador desaparece.

O modelo terapêutico EMDR apresentou desde o início excelentes resultados em casos da perturbação de stresse pós-traumático (PTSD) mas com o tempo veio a verificar-se a sua eficácia no tratamento de diversos quadros psicopatológicos.

Estudos recentes em traumatologia têm vindo a demonstrar que esta nova abordagem de psicoterapia tem registado sucesso ao nível clínico e mudanças do funcionamento cerebral, com redução de actividade neurológica do hemisfério esquerdo (responsável principal pelo registo de reacções emocionais e orgânicas) e activação do sistema nervoso autónomo/parassimpático (responsável por reacções de relaxamento corporal e sentimentos de tranquilização).

O EMDR foi idealizado como psicoterapia breve e focal com resultados duradouros a longo prazo.

 

Isabel Lemos

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